Xamanismo: O Caminho do Guerreiro

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Há tempos sou leitor das obras de Carlos Castañeda, que ficou famoso na década de 70 por seu livro “The Teachings of Don Juan”, traduzido no Brasil como “A Erva do Diabo”, sua primeira obra que narrava os relatos como aprendiz do mundo cognitivo dos xamãs do México antigo. Outros livros subsequentes se tornaram best sellers e ainda hoje são uma forte referência aos estudos antropológicos e místicos.

O xamanismo que abordaremos aqui difere um pouco do xamanismo que está em voga atualmente, onde se busca um estado de transe através do êxtase, em comunhão com os espíritos da natureza, toques de tambor indígena, visões, etc. Não, o que vamos tratar é algo mais pragmático, e que pode ser aplicado diretamente ao nosso cotidiano, são atitudes de pensamento e ação simples de se entender e que devemos vivê-los no dia-a-dia, cada pessoa à sua maneira.

É simples, sim, mas nem por isso fácil. É difícil abandonar os preceitos e crenças que estão profundamente enraizados em nossas mentes desde a infância, abandonar velhos padrões, se conscientizar dos hábitos que se tornaram automáticos, e mais difícil ainda é viver de acordo com o que se pensa.

Do conjunto total dos livros de Castañeda, extraí para mim o que achei de maior importância dos ensinamentos de Don Juan Matus e comecei a aplicar o modo de vida do Guerreiro à minha própria vida, o que veio a mudar radicalmente minha maneira de pensar e agir. A obra é bem vasta, e até hoje quando releio algum dos livros acabo descobrindo idéias novas, interessantes e o que acho mais importante: práticas!

Certa ocasião, buscando informações sobre os Templários, descobri “casualmente” a O.T.O., e sua principal premissa, a Lei de Thelema. Até então, eu só conhecia de Thelema o que foi cantado nas músicas de Raul Seixas, e vim a descobrir depois que nem todos os Thelemitas concordam com a maneira como ele pregava suas idéias. E sobre Crowley eu conhecia o básico, que fora o maior magista do último século, que deixou uma vasta e riquíssima obra de cunho esotérico, mas até então, quase inacessível.

Ao ler pela primeira vez o Livro da Lei, me dei conta de que o modo de vida que eu procuro levar, norteado pelo caminho do Guerreiro que aprendi de Castañeda, era muito parecido com algumas passagens que encontrei ali.

Isso me apanhou imediatamente! As coisas que eu acreditava, o modo de vida que eu julgava correto, os ideais pelos quais eu aspirava agora tinham um nome: A Lei de Thelema.

Comecei a traçar analogias entre o que eu havia aprendido com o xamanismo de Don Juan e o que eu estava aprendendo agora sobre Thelema, e ficou claro que embora a origem das duas culturas sejam diferentes, os caminhos são paralelos e não conflitantes.

Fazer um resumo dos ensinamentos do nagual (xamã) Don Juan seria algo além do escopo do presente ensaio, mas posso dar uma breve descrição no que diz respeito a viver como um “Guerreiro”, como é explicado nas obras de Castañeda.

Gostaria de salientar aqui que esta é apenas a minha visão, meu ponto de vista particular sobre este assunto, que naturalmente irá divergir de outras possíveis opiniões, e neste caso recomendo, obviamente, que cada um que se interessar leia os livros e tire suas próprias conclusões.

Bem, no estilo de vida de um Guerreiro, ele não interfere na órbita alheia, pois ele acredita que todos temos potenciais iguais, sendo desnecessário sua interferência e sempre respeitando a decisão dos outros quanto à maneira de viver.

Um Guerreiro assume total responsabilidade por seus atos. Ele sabe que a atual situação em que se encontra é única e exclusivamente de sua própria responsabilidade. Desta forma, não há lógica em ficar se lamentando, culpando a deus e o mundo por seus infortúnios. A responsabilidade é sua, não adianta ficar se melindrando, então ele aprende com seus erros age para corrigir o que for possível e modificar sua vida.

Ele aprende a contar apenas consigo mesmo para viver, e não desperdiça energia com sentimentos mundanos que não lhe trazem nada de útil, tais como a vaidade, o egoísmo, a compaixão e a autocompaixão, etc. Aliás, uma das principais premissas no caminho do Guerreiro está em perder a auto-importância. Isso é algo relacionado ao conceito de se matar o ego, que encontramos na cabala e em outras filosofias.

No caminho do Guerreiro, ninguém é obrigado a fazer nada que não queira, mas uma vez assumido um compromisso, ele deverá levá-lo às últimas conseqüências, se necessário for, para cumpri-lo.

Os mistérios e provações pelos quais Castañeda passou, são as ordálias e aprendizados mágickos pertinentes ao mundo cognitivos dos xamãs do México antigo, mas não diferem em grau de dificuldade, de esoterismo e simbolismo pelos quais passam os iniciados nas Ordens esotéricas de todo o mundo.

Para exemplificar melhor, citarei abaixo algumas passagens dos ensinamentos de Don Juan para Castañeda, as que me parecem mais evidentes, e você leitor poderá traçar seu próprio paralelo com a nossa Sagrada Lei de Thelema.

Tudo o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto se inicia com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante. Se este ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um sentido de intenção inflexível que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho está aberto. Uma coisa leva a outra até que o Guerreiro descubra seu potencial completo.

Os Guerreiros não se ajudam, não tem compaixão por ninguém. Para ele, ter compaixão significa que você desejava que o outro fosse como você, e você o ajuda b só para isso. A coisa mais difícil do mundo é um Guerreiro deixar os outros em paz. A impecabilidade do Guerreiro é deixar os outros como são, e apoiá-los no que forem. Isso significa, naturalmente, que você confia que também eles sejam Guerreiros impecáveis.

Não despreze o mistério do homem em você sentindo pena de si mesmo ou tentando racionalizá-lo. Despreze a estupidez do homem em você, compreendendo-a. Mas não se desculpe por nenhum dos dois, ambos são necessários.

Você deve cultivar a ideia de que um Guerreiro não precisa de nada. Diz que precisa de ajuda. Ajuda pra quê? Você tem tudo o que é preciso para a viagem extravagante que é a sua vida.

A chave para todos esses mistérios de impecabilidade é o sentido de não ter tempo. Via de regra, quando você age como um ser imortal que tem todo o tempo do mundo, você não é impecável. Você deveria virar-se, olhar em volta e aí compreender que sua impressão de ter tempo é uma idiotice. Não há sobreviventes nesse mundo. Você deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas, agir só por agir.

Não preciso de escoras nem de corrimãos. Sei quem sou. Estou sozinho num universo hostil e aprendi a dizer: que seja!

Esteja alerta a cada segundo. Não permita que nada nem ninguém decida por você.

A autoconfiança do Guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O Guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o Guerreiro só está preso ao infinito.

Um Guerreiro é um caçador. Calcula tudo. Isso é controle. Mas, uma vez terminado seus cálculos, ele age. Entrega-se. Isso é abandono. Um Guerreiro não é uma folha à mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo; ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas contra si mesmo ou contra o que ele acha certo. Um Guerreiro está preparado para sobreviver, e ele sobrevive da melhor maneira possível.

Acho que estas reflexões devem bastar a princípio. Sucesso é a tua prova!


Autor: Frater Prainor

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