Um Estudo Solar

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Senhor visível e sensível de quem esta terra é somente uma fagulha congelada girando ao teu redor em movimento anual e diário, fonte de luz, fonte de vida, que tua perpétua radiância acolha-nos para o contínuo trabalho e lazer; para que, assim como somos partícipes contínuos de tua generosidade, possamos em nossa órbita particular dar luz e vida, sustento e alegria àqueles que giram à nossa volta sem diminuição de substância ou refulgência para sempre.

Crowley, A. Liber XV – A Missa Gnóstica, 1ª Coleta

O ritual do Liber Resh vel Helios, criado por Aleister Crowley para a Astrum Argentum, é um dos mais primários ritos de Thelema e entende-se que deveria ser realizado por todo(a) adepto(a), todos os dias, ao longo de sua vida. Ele descreve quatro adorações solares a serem feitas na Aurora, ao Meio Dia, no Poente e à Meia Noite. Sua principal função é a de lembrar à(o) adepto(a) sua aspiração à Grande Obra, contudo seus efeitos no subconsciente, na forma de suas meditações, nos conectam também aos ciclos de crescimento, apogeu, decaimento e morte, simbolizados pela aparente jornada do Sol nos céus da Terra, bem como em seu ciclo anual.

A importância do Liber Resh vel Helios é dada pelo próprio Crowley em seus escritos:

O objetivo desta prática é, primeiramente, lembrar ao aspirante, a intervalos regulares, da Grande Obra; secundariamente, trazê-lo à uma consciência pessoal das relações com o centro de nosso sistema; e, terceiramente, para estudantes avançados, fazer um contato mágico real com a energia espiritual do Sol e, assim, puxar uma força verdadeira dele.

Crowley, A. The Confessions of Aleister Crowley, p. 673.

Nunca negligencie as quádruplas Adorações ao Sol em suas Quatro Estações, porque, por elas, afirmas teu lugar na natureza e em suas harmonias.

Crowley, A. Liber CXI vel Aleph.

Todo estudante deve fazer questão de saudar o Sol (da maneira recomendada em Liber Resh) quatro vezes ao dia.

Crowley, A. Eight Lectures on Yoga: Yoga for yellowbelies.

Agora, há um assunto verdadeiramente importante. A única coisa além do Livro da Lei que está na vanguarda da batalha. Como eu lhe disse ontem, a primeira coisa essencial é a dedicação de tudo o que se é e tudo o que se precisa à Grande Obra, sem nenhum tipo de reserva, e isso deve ser lembrado constantemente: a forma de fazer isso é a prática do Liber Resh vel Helios, Sub Figura CC, pags. 425-426 – Magick [Book 4]. Existe outra versão dessas Adorações, um pouco mais completa; mas a que está no texto está bem. O importante é não esquecer. Terei de lhe ensinar os sinais e os gestos que acompanham as palavras.

Crowley, A. Magick Without Tears, Carta A.

Particularmente útil contra o medo da morte é o desempenho pontual e vigoroso do Liber Resh. Medite sobre o Sol em cada Estação; seu caminho contínuo e uniforme: o círculo interminável. Essa fórmula no livro do Tarot é a mais valiosa.

Crowley, A. Magick Without Tears, cap. LXIII.

Uma instrução para adoração ao Sol, quatro vezes ao dia, com o objetivo de preparar a mente à meditação e regularizar as práticas.

Crowley, A. Currículo da A∴A∴, Curso II, Liber CC Resh vel Helios

Resh

Ao se estudar os Libri Thelêmico deve-se ter em mente que não apenas o texto em si é importante para seu entendimento. O próprio titulo do Liber contém, sempre, indicações de seu significado.

No caso aqui, a letra hebraica Resh, se buscada nos Caminhos da Árvore da Vida, vai ser encontrada no 30º Caminho, que liga Hod a Yesod, este caminho liga-se ao “despertar”. É, assim, um caminho de grande inspiração visionária, de descobertas. Também é devotado às sensações físicas com o propósito de regeneração da personalidade. É chamado de “Inteligência Coletiva” por sintetizar e adaptar todas as outras formas de consciência, administrando as leis que regem a realidade.

A letra Resh, cujo nome significa “cabeça”, também pode ter por significado “início” ou “um homem pobre”, significando a capacidade de iniciar o processo de retificar o “yesh” (o “algo”, a fisicalidade) da Criação.

Não é surpresa que essa letra tenha por correlação o Sol, tal como o 30º Caminho esteja ligado ao Atu XIX, O Sol. Isso nos apresenta este Liber como um ritual ligado diretamente às divindades solares, sendo que sua execução nos leva a uma condição espiritual que permite, através da regeneração e da inspiração, iniciar um processo de retificação do mundo – a começar pelo nosso próprio mundo interior e sua ligação com o exterior.

Liber Resh vel Helios

São estas as adorações a serem executadas pelos aspirantes à A∴A∴.

1. Que ele adore o Sol ao amanhecer, virando-se para o Leste, dando o sinal de seu grau. Que ele diga em alta voz:

Saudações a Ti que és Rá em Teu Erguer, a Ti que és Rá em Tua força, que viajas pelos Céus em Tua barca no Nascer do Sol.
Tahuti firma-se em Seu esplendor à proa, e Ra-Hoor posta-se ao leme.
Saudações a Ti das Moradas da Noite.

2. Também ao meio-dia, virando-se para o Sul, dando o sinal de seu grau. E que ele diga em alta voz:

Saudações a Ti que és Ahatoor em Teu Triunfo, a Ti que és Ahatoor em Tua beleza, que viajas pelos Céus em Tua barca no Curso-Médio do Sol. 
Tahuti firma-se em Seu esplendor à proa, e Ra-Hoor posta-se ao leme.
Saudações a Ti das Moradas da Manhã.

3. Também ao pôr-do-sol, virando-se para o Oeste, dando o sinal de seu grau. E que ele diga em alta voz:

Saudações a Ti que és Tum em Teu Poente, a Ti que és tum em Tua alegria, que viajas pelos Céus em Tua barca no Declínio do Sol. 
Tahuti firma-se em Seu esplendor à proa, e Ra-Hoor posta-se ao leme.
Saudações a Ti das Moradas do Dia.

4. Também à meia-noite virando-se para o Sul, dando o sinal de seu grau. E que ele diga em alta voz:

Saudações a Ti que és Khephra em Teu Ocultar, a Ti que és Khephra em Teu silêncio, que viajas pelos Céus em Tua barca na Meia-Noite do Sol. 
Tahuti firma-se em Seu esplendor à proa, e Ra-Hoor posta-se ao leme.
Saudações a Ti das Moradas da Tarde.

5. E que cada uma destas invocações que ele dê o sinal do silêncio e que depois execute as adorações que lhe foram ensinadas por seu Superior. E que então se coloque em sagrada meditação.

6. É também melhor que nestas adorações assuma ele a Forma-Deus daquele que está sendo adorado, como se ele se unisse a Ele na adoração d’Aquele que está além d’Ele.

7. Também deves manter sempre em mente a Grande Obra que deves executar, e deves fortalecer-se para completá-la pela obtenção da Pedra Filosofal, o Summum Bonum, a Verdadeira Sabedoria e Perfeita Felicidade.

As Divindades Egípcias e Suas Correspondências

Rá, ou Ré, era o nome que os antigos egípcios davam ao Sol, contudo as atribuições exatas que eles lhe davam estão perdidas. Era considerado como um emblema invisível do divino e a grande divindade da Terra, a quem ofertas e sacrifícios diários eram feitos. Considerava-se que a Criação teve início quando ele, pela primeira vez, surgiu por sobre o horizonte. Quando a pessoa falecia e passava pelos testes descritos n’O Livro dos Mortos, era convidado a ir para onde Rá estava e este dava-lhe lugar na “barca de mil anos”, onde navegavam nos céus. Era dito que Rá estava no Sol durante o dia e, à noite, em sua barca, onde ele se colocava ao lado de Khepra e Tum (Atum), para vencer a noite e a escuridão, representadas também pela figura da serpente Apep, afastando as névoas do amanhecer com seus raios.

As concepções morais ligadas a Rá só foram criadas posteriormente, colocando-se que a vitória de Rá sobre Apep representava também a vitória do bem contra o mal, do certo sobre o errado e da verdade sobre a falsidade. Sendo um símbolo do movimento, estava ligado à própria vida do Ser Humano, sendo que seu desaparecer no Ocidente simbolizava a própria morte.

Muitas vezes era representado com uma cabeça de falcão encimada por um disco solar, o que o leva a ser confundido com o deus Hórus. Normalmente era associado ao deus Tum, formando a liderança do panteão de Annu (Heliópolis) e, neste período, possuía uma contraparte feminina, Rat.

Seu nome significa “poder criativo”, podendo também ser entendido como “Criador”. Tanto Rá quanto Hórus possuem uma significação de elevação aos céus. A combinação de Rá e Hórus é Ra-Hoor-Khuit (“Rá, que é Hórus dos Horizontes”), mostrando os dois como uma força solar singular.

No Liber Resh, Rá é visto no Oriente, tendo ligações com Tipharet. No Livro dos Mortos egípcio diz-se que a forma de pensar correta a se ter quando em face a Rá é “eu vim a ti e estou com você para ver seu disco todos os dias; não serei contido ou repelido mas minha carne será renovada ao ver tua beleza”. Desta forma, temos em Rá a fórmula da ressurreição que é referenciada na Missa Gnóstica, Liber XV.

Correspondências

  • Horário: nascer do Sol
  • Direção: Leste
  • Elemento: Ar
  • Sephira: Tipharet

Ahatoor

Het-heru, Hathor ou Ahatoor, cujo nome significa “A Casa de Hórus” era a deusa dos céus em que Hórus viajava com suas asas de falcão; bem como o útero no qual os deuses-sol nasciam a cada dia. Posteriormente, um grande número de divindades femininas surgiram a partir dela: Ísis, Neith, Iusaset e outras. Todas absorveram para si os atributos de Ahatoor. Em alguns pontos da mitologia egípcia é mencionada a existência das Sete (ou mais, chegando a 362) Hathors, que parecem ser espíritos ligados à boa sorte.

Ahatoor também era conhecida como a deusa do Amor, beleza, felicidade, tendo sido comparada pelos gregos com a sua Afrodite. Costumava ser representada com a forma de uma mulher com chifres de vaca no meio dos quais se colocava um disco solar. Outra representação dela é a de uma mulher com cabeça de leoa, forma na qual ela recebe ligações com a deusa leoa Sacmis (ou Sekhmet), que levava a fúria de Rá à humanidade. Uma outra representação sua é a de uma vaca levando em seus cornos o disco solar; assumindo assim seu papel como nutridora da humanidade.

Ahatoor é a representação, no panteão egípcio antigo, da própria feminilidade, sendo uma deusa solar, representando o Olho de Rá que vigia o mundo.

No Liber 777, Ahatoor é relacionada Netzach, na Árvore da Vida. Por isso, é dada a ela o sinal do Fogo. Seus aspectos são venusianos, fertilidade e fecundidade, sem deixar de mostrar seu lado de fúria, sendo o Olho de Rá e a deusa Sacmis. Nesta forma, destrói quase toda a Humanidade até ser aplacada com cerveja (ou vinho tinto, em alguns textos). Estas duas facetas da deusa podem ser vistas como representações do êxtase e do desejo físico, que tanto nos levam ao encanto celestial quanto à destruição.

O aspecto vingativo de Ahatoor é o Sol no Sul (no hemisfério Sul), a que se refere Crowley:

Os antigos iniciados, habitando como faziam em terras cujo sangue era a água do Nilo ou do Eufrates, conectavam o sul com a vida murchando com o calor e amaldiçoavam aquele lugar onde os dardos solares eram mais mortais.

Crowley, A. Book 4, cap. 5.

Crowley também atribuía ao Sol no Sul à letra hebraica Ayn, logo, a’O Diabo (Atu XV do Tarot). Ahatoor é o olho aberto e exaltado do Sol, ante o qual todas as sombras se retiram; mas também o olho oculto do Sol, a representação da Luz Oculta que ilumina a mente. Por sua ligação com Sacmis, em Magick in Theory and Practice, Crowley liga “Ahatoor em seu Triunfo” também a “Mau, o mui nobre Leão”, dizendo, na Invocação a Hórus,: “Mau, eu te invoco, Leão do Sol do Meio Dia”.

Correspondências

  • Horário: sol a pino
  • Direção: Sul
  • Elemento: Fogo
  • Sephira: Netzach

Tum

Atemu ou Tum, cujo nome significa “o mais próximo”, em um período posterior, se tornou a principal divindade de Annu, substituindo ou se fundindo a Rá, na forma de Rá-Atum. Representava o Sol da tarde ou do poente e, no Livro dos Mortos egípcio é chamado de “deus divino”, “autocriado”, “criador dos deuses”, “criador dos homens”, “o que estendeu os céus” e “o que ilumina o Duat com seus dois olhos”. Acreditava-se que era ele o responsável pelas brisas frescas que vinham do Norte, tão esperadas depois do calor abrasante do meio dia.

É sempre representado na forma de um homem idoso, sempre de barba, com as coroas azul e branca do Baixo e Alto Egito, portando em suas mãos um cetro e um ankh, emblemas da realeza e da vida. Em um sarcófago ele foi retratado na Barca do Sol, acompanhando Khepra e Rá. Possuía, porém, uma forma feminina, chamada Tmu Temt.

Tum é um dos deuses mais antigos da mitologia egípcia, sendo parte da Pesedjete (Eneada) de Annu . Originalmente uma divindade da terra e da agricultura (paralelo a Asar – Osíris – em sua forma mais primitiva), foi, posteriormente, associado a Rá. É considerado como sendo o primeiro deus vivo dos egípcios, ou seja, sem associação com nenhuma forma animal.

A fusão de Tum e Rá, Rá-Atum, era também conhecida como Ra-Horakhty ou Atum-Horakhty, sendo que Horakhty significa “Hórus dos Dois Horizontes”. Isso leva à visão de Rá como o Sol do Nascente e Tum como o Sol do Poente. início e fim da jornada solar diária antes de seu mergulho no Duat. É essa ligação com o final do dia e início da noite que dá a Tum correspondências com Yesod em seus aspectos mais sombrios.

O primeiro filho de Tum, gerado do muco de seu espirro, era Shu (Shum), uma divindade da luz solar (não do Sol), da umidade e do ar. Era responsável por manter Nut (Nuit) e Seb (Geb) separados para que não tivessem mais filhos mas também por movimentar o ar, o que mantinha o Sol em movimento todos os dias. Tal como seu pai, Shu morava nos horizontes, de onde vinham os ventos e assim possuía também uma ligação com o submundo.

Correspondências

  • Horário: sol poente
  • Direção: Oeste
  • Elemento: Água
  • Sephira: Yesod

Khepra

Khepra, o deus escaravelho cujo nome significa “tornar-se”, era uma forma do Sol nascente. Mas não o Sol que já aparece no horizonte mas sim aquele que ainda está para nascer, uma forma de matéria prestes a passar da inatividade para a vida. Assim sendo, costuma ser entendido como uma forma de Rá. Representa também o cadáver preste a despontar para uma nova vida, de forma glorificada. É retratado como um homem tendo um escaravelho por cabeça. Acreditava-se que este inseto era autogerado, noção trazida pelos inúmeros besouros encontrados em tumbas de todas as idades no Egito, bem como nas ilhas e assentamentos gregos e fenícios nas costas do Mediterrâneo. Khepra ficava na Barca do Sol, conforme a maioria de suas representações pictóricas, mesmo as mais antigas.

Na pirâmede de Unas, último faraó da Vª dinastia egípcia, encontramos a seguinte inscrição:

Ele voa como um pássaro e pousa como um besouro no trono vazio de teu barco, ó Rá.

Maspero, G. Coleção de obras relacionadas à filologia e arqueologia egípcia e assíria, i. iv., pag. 57.

Khepra é um tipo específico de escaravelho, o besouro de esterco ou “rola bosta africano” (scarabaeus sacer). Tal como o escaravelho vulgar rola à sua frente uma bola de esterco, onde seus ovos depositados deverão eclodir e suas larvas saírem da escuridão para a luz, Khepra empurrava à sua frente o globo solar ao longo do arco do céu (por vezes, era representado empurrando também a Lua). Essa característica de empurrar uma bola em um buraco de onde, posteriormente, vários outros besouros brotavam foi o que atribuiu a Khepra a simbologia de autogeração e autorrenovação.

Com a descida do Sol por detrás das montanhas de Manu, a Oeste do Nilo, os egípcios antigos voltaram-se para a observação da natureza à sua volta em busca de correspondências. Observando o Sol sobreviver à sua jornada no submundo e renascendo na manhã seguinte com energias renovadas, a correlação que encontraram foi justamente com a vida que brota, aparentemente, do nada, da bola de esterco que o escaravelho rola à sua frente. A imagem da vida brotando da putrefação os remeteu à renovação da vida humana em forma espiritual após a putrefação do corpo físico. De acordo com os sacerdotes de Annu, Khepra havia surgido do guano primitivo de Bennu , garça que daria origem à lenda grega da Fênix. Desta forma, Rá renascia todos os dias a partir da matéria pútrida que Khepra havia cuidado e impulsionado pelo mundo suberrâneo.

Khepra, apesar de ser representado como um homem, não possui sexo, tal como os egípcios não viam dimorfismo sexual em um escaravelho, podendo ser considerado um hermafrodita pois, na visão mitológica, não precisava de outro ser para conceber sua prole. Isso, somado à sua condição de materializar o Sol, o liga à Sephira de Hod.

Correlações

  • Horário: Sol no submundo
  • Direção: Norte
  • Elemento: Terra
  • Sephira: Hod

Outros Deuses

Algumas outras divindades são citadas durante o Rito, como estando presentes ao longo do dia na Barca Solar. São essas:

Tahuti

Tahuti, Djewhti ou Toth era o deus egípcio da escrita, da sabedoria, do calendário e da Lua. Era representado como um homem com cabeça de íbis ou como um babuíno (quando recebia o epíteto de Cinocéfalo, ou “cabeça de cachorro”).

No ritual, é dito sempre estar à proa, a parte da frente, da Barca Solar, indicando que o movimento do Sol necessita de aspectos lunares e da sabedoria que estes trazem para se dar.

Ra-Hoor

Outra forma de união entre os deuses solares Rá e Hórus, era a divindade patrona e protetora dos faraós.

No Liber Resh, situa-se ao leme da Barca Solar. Esta posição indica que é o direcionador do movimento solar.

Outras Correspondências

O Ritual Menor do Pentagrama

De acordo com as correlações entre cada um dos deuses glorificados nos quadrantes do Liber Resh vel Helios, é relativamente fácil perceber que a posição onde o(a) praticante se encontra durante cada uma das orações, na Árvore da Vida é a mesma onde ele se encontra durante a execução do Ritual Menor do Pentragrama, o cruzamento entre os caminhos d’A Torre (27º Caminho – Kaph) e d’A Arte (25º Caminho – Samekh). Assim, pode-se também associar os arcanjos pelo mesmo arranjo:

  • Rá – Leste – Raphael
  • Ahatoor – Sul – Michael
  • Tum – Oeste – Gabriel
  • Khepra – Norte – Uriel

Sendo um ritual profundamente ligado à Luz, podemos, consequentemente, traçar uma correlação dos quadrantes (e seus deuses e arcanjos) com as quatro qualidades cabalísticas da mesma:

  • Rá – Raphael: AUR, a luz solar
  • Ahatoor – Michael: AUD, a luz ativa
  • Tum – Gabriel: AUB, a luz astral
  • Khepra – Uriel: AUTH, o calor latente

Macrocosmo

De acordo com as correspondências encontradas no Liber 777, podemos traçar também uma correspondência entre as divindades exaltadas nos quadrantes e o Macrocosmo, na figura de quatro Planetas:

  • Rá – Leste – Sol
  • Ahatoor – Sul – Vênus
  • Tum – Oeste – Lua
  • Khepra – Norte – Mercúrio

Os “Sinais de Grau”

Tendo sido desenvolvido para a Astrum Argentum, o ritual pede que o(a) praticante, em cada adoração, faça o sinal do Grau correspondente. Para uso de não membros da A∴A∴ são utilizados sinais que possuam correspondência aos vários simbolismos de cada uma.

Nota: as descrições dos vários sinais foram tiradas diretamente do Liber O vel Manus et Sagittæ.

Rá – Leste, ao amanhecer

Sinais de LVX (Osíris Morto, Ísis Lamentante, Tiphon e Osíris Ressurrecto)

Os sinais de LVX, originários da Golden Dawn, representam a vitória da Luz Divina sobre as Trevas e podem ser entendidos como um único sinal composto. Por isso, tal como os sinais de NOX, são feitos sempre em conjunto. Os movimentos dos braços durante a aplicação desses sinais formam as letras L, V e X, de “lvx”, luz em Latim. Esta é a representação da Luz na Cruz e possui ligações com a fórmula de IAO (Ísis, Apohis, Osíris), que é relativo à entrada do Sol no signo de Virgem e a introdução do elemento Ar que, em si, representa o Espírito da unificação do componente da Alma conhecido na Cabalá por Ruach, a respiração, o prana, cujo entendimento inicia o processo de iluminação espirital simbolizado pela Cruz.

Todo o conceito de fazer esses sinais é duplo. A primeira é que se traz à matéria as influências da Luz Divina, por meio de um processo de assimilação da forma de Deus ao fazer os sinais, que se relacionam com o Ruach, a segunda parte funcional da Alma Cabalística. A ideia é unificar a porção inferior da Alma, chamada de Nephesch, com a do Ruach, que é de fato um dispositivo desencadeador pelo qual isso é ativado e impulsiona o(a) praticante a níveis mais elevados de consciência.

Osíris Morto, A Cruz

Cabeça inclinada. Braços diretamente na horizontal a partir dos ombros no plano da imagem. Palmas das mãos para a frente. A forma tau do robe domina.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

Este sinal está ligado às energias dos Equinócios (Primavera e Outono).

Ísis Lamentante, a Swastika

O corpo está em semi-perfil, com a cabeça baixa e voltado para a direita da fotografia. Os braços, mãos, pernas e pés estão posicionados para definir uma suástica. Pé esquerdo plano, carregando peso e angulado para a direita. Pé direito do pé atrás da figura à esquerda. Braço direito devido à esquerda e antebraço na vertical com os dedos fechados e apontando para cima. O braço esquerdo inclinou-se suavemente para a direita, com os dedos fechados e apontados para baixo.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

A posição das mãos reflete o arco do Sol no Solstício de Verão e liga este sinal à força vital de Osíris.

Apohis, o Tridente

De pé na ponta do pé, dedos para a frente e calcanhares sem tocar. Cabeça para trás. Braços angulados em “V” com o corpo para cima e para fora.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

As mãos mostram um próximo movimento do arco, representando o Sol no Solstício de Inverno. Este sinal nos mostra que toda Luz possui em si algo de Escuridão.

Osíris Ressurrecto, o Pentagrama, atitude de ressurreição

Cabeça diretamente voltada para frente e nivelada. Braços cruzados sobre o coração, direita sobre a esquerda, com as mãos estendidas, dedos unidos e polegar ao lado, de modo que as palmas das mãos descansem nos dois ombros opostos.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

Isso mostra a combinação do efeito das energias do Equinócio e do Solstício. A energia aqui é então reduzida em um fluxo uniforme, cimentando-se no espirito.

Ahatoor – Sul, ao meio do dia

Fogo: a deusa Thoum-aesh-neith

Os braços são angulados para que os polegares se encontrem em uma linha acima da testa. Lado palmer voltado. Os dedos se encontram acima da cabeça, formando entre os polegares e os dedos o triângulo ascendente do fogo

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

Também chamada Tehenut, é uma antiga Deusa egípcia cujo culto provém do período pré-dinástico, na qual tinha forma de escaravelho. Depois foi deusa da guerra, da caça e deusa inventora, Em seu aspecto funerário, é a Deusa protetora dos mortos: quem inventou o tecido (se converte em patrona dos tecedores) que oferece tanto às vendas, quanto o sudário aos mortos. Os gregos identificaram-na com a deusa Atena pelos atributos da guerra e da tecelagem, sendo que tinham um mesmo animal simbólico, a coruja.

Tum – Oeste, ao crepúsculo

Ar, o deus Shum apoiando o céu

Calcanhares juntos e levemente inclinados para a frente, pés apoiados no chão, cabeça abaixada, braços em ambos os lados da cabeça, cerca de um metro e meio da cabeça ao pulso e tortos como se apoiassem um teto na altura da cabeça com as pontas dos dedos. As palmas das mãos estão voltadas para cima e as costas das mãos afastadas da cabeça. Polegares fechados ao lado das palmas. Dedos retos e juntos.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

Vide acima a descrição de Shum.

Khepra – Norte, à meia noite

Água, a deusa Auramoth

A mesma posição de corpo e pé da posição 2 [sinal do Fogo], mas a cabeça ereta. Os braços são abaixados sobre o peito, de modo que os polegares tocam acima do coração e as costas das mãos ficam para a frente. Os dedos encontram-se abaixo do coração, formando entre os polegares e os dedos o triângulo descendente da água.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

Auramoth, ou Mut, é uma deusa do Antigo Egito, esposa de Amom e mãe adotiva de Quespisiquis. Auramoth era entendida como uma deusa bastante poderosa. De início era apenas uma deusa-falcão da cidade de Tebas. A partir da XVIIIª Dinastia, quando o deus Amon se tornou popular, Mut passou a ser vista como sua esposa, tendo substituído a primeira mulher deste, a deusa Amonet, como sua companheira.

O Sinal do Silêncio

Também conhecido como Sinal de Harpokrates

Permanecendo ereto, mão esquerda ao lado, coloque a ponta do dedo indicador da mão direita ao lábio inferior.

Crowley, A. Liber O vel Manus et Sagittæ

As Adorações

Por tradição, dentro da O.T.O. são usadas as Adorações do Livro da Lei, presentes no Capítulo III do Liber AL vel Legis:

Eu sou o Senhor de Tebas, e Eu
O inspirado orador de Mentu;
Para mim se desvela o velado céu,
O morto por si mesmo Ankh-af-na-khonsu
Cujas palavras são verdade. Eu invoco, Eu saúdo
Tua presença, Ó Ra-Hoor-Khuit!
Unidade máxima manifestada!
Eu adoro o poder de Teu sopro,
Supremo e terrível Deus,
Que fazes os deuses e morte
Tremerem diante de Ti: —
Eu, Eu te adoro!
Aparece sobre o trono de Ra!
Abre os caminhos do Khu!
Ilumina os caminhos do Ka!
Os caminhos do Khabs percorre
Para agitar-me ou apaziguar-me!
Aum! que isto me mate!

Liber AL vel Legis, Cap. III, vers. 37

A luz é minha; seus raios consomem
a Mim: eu fiz uma porta secreta
Para dentro da Casa de Ra e Tum,
De Kephra e de Ahathoor.
Eu sou teu Tebano, Ó Mentu,
O profeta Ankh-af-na-khonsu!
Por Bes-na-Maut no meu peito Eu bato;
Pelo sábio Ta-Nech o meu feitiço Eu teço.
Mostra teu esplendor estrelado, Ó Nuit!
Convida-me à tua Casa para morar,
Ó alada serpente de luz, Hadit!
Habita comigo, Ra-Hoor-Khuit!

Liber AL vel Legis, Cap. III, vers. 38

Estas Adorações direcionadas a Ra-Hoor-Khuit que, como visto acima, é uma representação (na mitologia egípcia) da elevação do espírito. Também estão presentes as figuras de Rá, Tum, Ahatoor e Kephra, as divindades adoradas no Liber Resh.

Assunção da Forma Deus

Ele deve estar absolutamente à vontade em seu Corpo de Luz, e o tornou invulnerável. Ele deve ser adepto de assumir todas as formas de Deus, de usar todas as armas, sigilos, gestos, palavras e sinais. Ele deve estar familiarizado com o nomes e números pertinentes ao trabalho em questão. Ele deve estar alerta, sensível e pronto para exercer sua autoridade; contudo cortês, gracioso, paciente e compreensivo.

Crowley, A. Magick in Theory and Practice, Apendice III: “Notas para um Atlas astral”

Pode-se dizer que a Assunção de Forma Deus é a completa identificação, tanto mental quanto postural do(a) praticante com uma determinada divindade. Mas, se formos analisar, representa mais do que isso.

Primeiro, é preciso memorizar todos os aspectos da divindade em particular que estamos assumindo, incluindo as características físicas encontradas em vários livros, pinturas e esculturas, atitudes, armas, emoções, a “imagem inteira”, quaisquer números associados a essa divindade em particular também são importantes. Quem são os inimigos, amantes, amigos e familiares do Deus ou Deusa? É preciso questionar seu conhecimento e ser capaz de ser testado em tempo real a respeito de qualquer aspecto do Deus ou Deusa em questão.

O(a) praticante deve harmonizar-se de forma completa com a natureza daquela divindade, exaltando-se neste processo. Ao final disso, a identificação entre o(a) praticante e a divindade deve ser completa; por assim dizer, praticante e divindade tornam-se a mesma coisa. Crowley diz, no Liber ABA, que esta deve ser uma forma de Samadhi e que, por si, deveria ser o único método de magia a ser levado em consideração e que é a fusão irremediável da magia ao misticismo.

Vamos descrever o método mágico de identificação. A forma simbólica do deus é primeiro estudada com o mesmo cuidado que um artista concederia a seu modelo, de modo que uma imagem mental perfeitamente clara e inabalável do deus seja apresentada à mente. Da mesma forma, os atributos do deus são consagrados na fala e esses discursos são comprometidos perfeitamente com a memória. A invocação começará então com uma oração ao deus, comemorando seus atributos físicos, sempre com profunda compreensão de seu significado real. Na “segunda parte” da invocação, a voz do deus é ouvida e o enunciado característico é recitado.

Crowley, A. Magick in Theory and Practice, cap. II: “A fórmula das armas elementais”.

Autor: Frater Hrw

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