O Vírus Coroado e Conquistador

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A não ser que você esteja lendo este artigo em uma base de Marte, você está em casa, de quarentena. Ou, pelo menos, deveria estar. Se não está, a não ser que seja profissional de saúde ou de outra área essencial, vá para casa. Sério. Agora.

Não vou entrar aqui em um texto sobre o SARS-CoV-2 ou sua doença, a covid-19. Prometo. Sei que você já deve estar lendo sobre isso em… bem, praticamente em qualquer coisa que você leia. E não vai querer mais um artigo aqui sobre estatísticas de contaminação e mortes, sobre pesquisas e coisa do tipo. Mas não se preocupe que não é sobre isso que eu vim mesmo falar aqui.

É sobre postura.

Não, não precisa acertar a coluna com uma certa sensação de culpa. Não é sobre essa postura que eu estou falando. Estou falando sobre nossa postura frente à pandemia e ao isolamento social. Acredite quando digo que isso é tão importante quanto manter um bom asana.

Porque o ser humano é um bicho esquisito. Quando começou toda essa história de afastamento, isolamento e quetais, um monte de gente do rolê esquisotérico entrou naquela onde de “agora vou ler todos aqueles livros de cabalayogahermetismoastrologiamagiacerimonial que eu estava querendo”. Ou então no “oba! é hora de colocar meus exercícios místicos em dia”. E ainda teve a turma no “vou colocar minha meditação em dia”.

Claro que eu e você sabemos que isso é uma grande balela.

Vamos encarar a verdade. Quando os nazistas começaram a montar os guetos em Varsóvia os judeus não pararam e pensaram “hmmm, boa hora para estudar a Torá”. Eles perceberam que estavam em uma péssima situação e só conseguiria sobreviver quem conseguisse se manter firme e ter uma boa rede de suporte. E, mesmo assim, as chances não eram das melhores. Da mesma forma, acreditar que esta pandemia é uma chance de melhoramento pessoal, de se tornar alguém mais evoluído espiritualmente ou qualquer coisa do tipo é pura e simplesmente querer gurmetizar uma tragédia.

Estamos mal. MUITO mal. O mundo inteiro está passando por uma ameaça como nunca se viu antes, que está afetando nossa saúde e nossa economia, além de outros fatores. É imprescindível nos conscientizarmos disso. É um momento em que a sobrevivência encontra-se em um patamar muito mais alto do que quaisquer outros parâmetros. E isso pode ter consequências que não vão ser resolvidas na base da meditação transcendental.

Já reparou como andam as suas redes sociais? Aliás, já reparou como você anda metido nelas? Como está a sua despensa? Você está se precavendo ou sai na rua à la doida? Estes são apenas alguns elementos que devemos estar considerando hoje em prol dessa sobrevivência, tanto física quanto mental. É claro que manter suas práticas espirituais é também um dos fatores que vão manter a nossa cabeça no lugar. Mas será que é tão fácil manter essas práticas enquanto você se preocupa com o estado de saúde da sua avozinha? Acho que não.

Encaremos a verdade: a atual situação não é algo de bom. Não é uma oportunidade e muito menos uma folga no dia a dia. Até porque ela deve durar ainda um bom tempo. E são, e vão ser, tempos difíceis. Se tentarmos tampar esse meteoro com a peneira vai ser pior ainda.

Por isso precisamos de postura. E da postura correta. E é por isso que vamos falar de Thelema agora.

Uma das características de todo pensamento Thelêmico é o não se render a ilusões, encarar a realidade de frente e com coragem. Bem, pelo menos é o que se espera. E dois subprodutos desse tipo de pensamento são assumir a responsabilidade por sua vida e suas ações, bem como lidar com as consequências das mesmas sem tentar tirar o corpo fora. Bem, pelo menos é o que se espera.

Agora, isso não é para ser uma postura pessimista ao estilo “vamos todos virar bárbaros zumbis” ou coisa do tipo. É encarar a realidade pelo que ela é: a realidade. Só assim podemos de fato lidar com ela da forma mais sustentável, mesmo que não confortável, para todos. Entender que assim podemos decidir melhor quais ações tomaremos e como lidaremos com cada situação. Seja materialmente ou espiritualmente.

Quarentena e pandemia são coisas sérias. Não podemos lidar com isso como se fosse uma brincadeira. Não adianta ficarmos com a ideia de que “sou jovem e espiritualizado, não estou no grupo de risco”. Você não está vivendo em uma base em Marte com link para a Netflix. Tem gente de verdade sofrendo e morrendo. Não torça, não espere que não vá se contaminar e desenvolver covid-19. Tenha ações reais para que isso não aconteça nem com você nem com outras pessoas.

Este não é um momento para se tornar um Mestre Ascencionado. É um momento para sobrevivermos. Todos. Juntos mas separados. Uma hora vai passar. Estude. Mantenha suas práticas, como eu já disse. Desenvolva novas. Faça algo, e mantenha a sanidade e a disciplina. Mas não me venha com postura de coach motivacional. Porque aí não dá.


Autor: Frater Hrw

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