O Demônio de Jung

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Rodney Orpheus, em seu livro “Abrahadabra”, menciona o caso de um amigo que só conseguia conversar com seu Santo Anjo Guardião depois de correr vários quilômetros. Talvez as endorfinas fossem importantes, no seu caso, para atingir o estado de Gnose onde essa experiência se realiza?

É interessante as muitas formas onde fenômenos que podem ser catalogados como Conhecimento ou Conversação com o Anjo Guardião se processam, para pessoas alheias ao referencial Thelêmico, e, mesmo, alheias a toda busca religiosa ou mágica ou mística. Várias vezes ouvi relatos de pessoas que, de imediato, pude reconhecer como pertencendo a esses grupo de fenômenos, embora elas não tivessem a menor noção do valor da benesse alcançada. Minha própria realização nesse sentido eu considero insatisfatória, embora já tenha tido resultados esparsos interessantes. Mas, imagino que na primeira metade da nossa vida ainda estamos muito absortos na preparação da Taça Menor e que, como Percival, tenhamos que perder a oportunidade para saber melhor aproveitá-la quando ressurgir.

Conhecer e conversar com seu Agathodaimon não é algo, afinal, raro na História, como uma pesquisa dos fenômenos religiosos pode mostrar. É algo recorrente, por exemplo, nas experiências xamânicas dos povos primitivos, na narrativa da Bíblia, na tradição cabalística. Aconteceu com Jung.

O espírito guia de Jung se chamava Philemon, e foi retratado pelo psicólogo num dos quartos de sua Torre Alquímica de Bollingen, como podemos ver na ilustração deste artigo. Sobre ele escreveu:

Philemon representava uma força que não era eu mesmo. Em minhas fantasias eu mantinha conversações com ele, e ele dizia coisas que eu não havia pensado conscientemente. Pois eu observava claramente que era ele que falava e não eu.

Psicologicamente, Philemon representava insight superior. Ele era uma figura misteriosa para mim. Algumas vezes ele parecia bem real, como se fosse uma personalidade viva. Eu andava para cima e para baixo no jardim com ele, e para mim ele era o que os Hindus chamam um guru.

Philemon ensinou a Jung sobre a objetividade psíquica:

Ele disse que eu tratava os pensamentos como se eu mesmo os gerasse, mas na sua visão pensamentos são como animais na floresta, ou pessoas em um quarto, ou pássaros no ar, e acrescentava: “se você visse pessoas em uma sala, você não iria pensar que você fez essas pessoas, ou que seja responsável por elas”.

Creio que, basicamente, isso indica que, da totalidade dos nossos processo mentais, uma pequena fração apenas está sob nosso controle e consciência, o que é mais claramente percebido nos sonhos. Se a nossa percepção de nós mesmos é tão condicionada à nossa memória e à percepção de nosso corpo, e se tudo isso utiliza apenas uma fração menor de nosso cérebro, experiências de expansão de consciência levam necessariamente à perda da identidade, da identificação com o ego. Ano passado, durante alguns dias, tive a experiência de que toda a minha mente estava viva e consciente, e falava comigo com a voz de uma menina sábia, cujo conselhos, para meu próprio prejuízo, fui inábil em seguir. Creio que se tratou de um conflito amistoso entre meu ego masculino de meia-idade e a novidade dessa “supermente” ativa. Essa consideração sobre identidade e memória tem exemplo na descrição de uma experiência de Jung:

Uma entrada dava em uma pequena antecâmara. É direita da entrada, um Hindu escuro sentava silenciosamente em postura de lótus sobre um banco de pedra… Eu sabia que ele me esperava. Dois degraus levavam a essa antecâmara, e dentro… estava o portal do templo. Enquanto eu me aproximava dos degraus que levavam a entrada na rocha, uma coisa estranha aconteceu: eu tinha a sensação de que tudo o que eu era estava sendo extraído; tudo o que eu almejara ou desejara ou pensara, toda a fantasmagoria da existência terrena, caía ou era retirada de mim … um processo extremamente doloroso. Entretanto algo permanecia; era como se eu agora carregasse comigo tudo o que eu experimentara ou fizera, tudo o que tinha acontecido ao meu redor. Eu posso também dizer: estava comigo, e eu era isso. Eu consistia de tudo isso, por assim dizer. Eu consistia em minha própria história, e senti com grande clareza: isto é o que eu sou. Eu sou o conjunto do que foi, e do que foi realizado.

Esta experiência me deu uma sensação de grande pobreza, mas ao mesmo tempo de grande completitude.

Essa narrativa tem fortes características neo-platônicas, pois essas filosofias advogavam que a jornada da alma de volta ao Uno se processava por etapas planetárias, nas quais se abandona, passo a passo, as instâncias psíquicas relacionadas a cada planeta. Robert Zoller menciona, no seu curso de Astrologia Medieval, que a libertação final do Destino, representado pelo Almutem do mapa, se dá justamente pelo abandono das qualidades recebidas dele.

O que me lembra uma experiência que tive em 98, quando, atendendo a um pedido meu de saber o que é Samadhi, meu Anjo gentilmente desmontou todo meu aparato psicológico, memória, personalidade, raciocínio. De início eu me assustei, pois parecia que eu não era uma individualidade, mas o resultado de um conjunto de partes, que separadas, não tinham nem identidade e nem consciência. Mas, a seguir, percebi que, apesar de estar tão ligado aquelas partes, eu era.

Aliás, se vocês procurarem nos sites de busca com “Philemon/Jung” vão achar muitas coisas interessantes, como a denunciação onde o autor, em momento de extraordinária inspiração divina, alerta-nos que as terapias baseadas no conceito da “Criança Interior”, regressão e imaginação ativa são originárias do “demônio Philemon” que “possuía Jung”:

Quem realmente é Philemon? No mínimo, um demônio. O quer que este ser seja, seu controle, influência, e efeito sobre Jung eram significativos. A influência de suas doutrinas e técnicas são amplamente difundidas e poderosas hoje, alcançando o mundo secular através da psicologia, dentro da filosofia New Age, e na igreja.

Jung disse que ele havia sido escolhido para terminar o que seus ancestrais não haviam terminado, e que haveria outro “escolhido” para embarcar nessa jornada. O trabalho e influência de “Philemon” ainda são fortes hoje. Pois ele ainda está escolhendo muitos tutores para suas doutrinas, e muitos, mesmo na igreja, estão seguindo as doutrinas desta coisa.

Sempre que nós temos que ir para for a dos ensinamentos Bíblicos, nós vamos entrar nessas áreas a que não pertencemos, para usar fontes que não conhecemos. Tal é o caso com a Criança Interior e sistemas de visualização.

E não é que ele tem mesmo uma certa razão? Afinal, essas técnicas podem levar ao contato com a Sombra, que ele projeta em Jung e Philemon, e com o Inconsciente Coletivo, que o assusta tanto. É interessante como, sem querer, ele acaba testemunhando a favor das teorias que ataca. Partindo de Lacan, eu diria que ele busca refúgio no Nome-do-Pai (contido no texto bíblico) contra um contato com o Real. O que me leva a interessante observação de que, em Magia Cerimonial, são os Nomes-de-Deus usados para controlar os Espíritos… Os Nomes-de-Deus, ou Nomes-do-Pai, intermediam e controlam aqueles que são representações de nossos desejos, endereçados ao Outro, que, nessa inversão, pode significar o Inconsciente Coletivo. Isso significaria que, dentro do processo de individuação, mudamos nossa orientação extrovertida, buscando o objeto originário perdido não na sociedade, mas dentro de nós mesmos?

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios.

I Timóteo 4:1

Autor: Frater Al Dajjal

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