Mamãe, Quero Ser Thelemita!

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Está certo que não se vê muito adolescente dizendo que quer ser Thelemita. Pelo menos, não tantos quanto dizem que querem ser youtubbers. Até porque, cá entre nós, dá mais trabalho ser Thelemita. Mas sempre tem uma meia dúzia de gatos pingados que dizem isso. Só que aí a gente tem de começar se perguntando uma coisa: afinal de contas, o que é ser um Thelemita?

Para a grande maioria das pessoas da patota ocultista, a definição de Thelemita é um chato que se acha a última bolacha do pacote, anda todo vestido de “trevoso” e sai por aí fazendo um monte de besteira dizendo que “é da lei”. E, admitamos, na maior parte das vezes estão certos. Por uma pequena sorte do destino, porém, nem sempre. Dá para achar por aí uma turma séria que tenta entender mais que bodega é essa de Thelema e se aprofundar em algo mais espiritual do que sexo, drogas e rock’n’roll (nada contra nenhum deles).

Porque não importa se você encara Thelema como uma filosofia ou uma religião, ou um método de magia, tem uma coisinha ou outra que não dá para deixar de lado quando se fala nisso. Porque, se formos levar em conta a inexistência de dogmas em Thelema, fica meio complicado em definir o que é, na dura, um Thelemita. Mas essas supracitadas coisinhas podem ser encaradas como uma espécie de mínimo do mínimo. E você, claro esclarecido Joãozinho, pode me perguntar quais são.

E eu respondo.

Ou, pelo menos, tento responder.

Um Thelemita é alguém que entende que todo e qualquer ser humano é uma divindade por si, vendo-se como responsável por cumprir um papel específico no Grande Esquema das Coisas® e buscando cumprir esse papel.

Pois é. É isso.

E aí eu já consigo escutar o povo querendo saber onde é ficou o Livro da Lei, onde entram uma penca de juramentos e as Ordens, que fim levou Magick, para que serve aquele monte de ritual e por aí vai. Pois é. No fim das contas, não precisa mesmo de nada disso.

Opa! Calma lá! Não disse que essas coisas (e outras mais) não servem para nada e que a gente pode largar tudo isso e ir tomar uma cerveja no boteco da esquina. Aliás, por incrível que pareça, dá para seguir com tudo isso e ir tomar uma cerveja no boteco da esquina. Acontece que mesmo essa minha definição de Thelemita é ainda total e completamente aberta a interpretações pessoais. Ou seja, não define xongas. É apenas a ideia abstrata de um Thelemita. Tipo caverna de Platão, sabe? Só que com luz estrobo.

Mas pensemos bem. A própria ideia da Lei de Thelema diz que lá pelos idos de 1904 a humanidade entrou em um novo paradigma espiritual. Não a Dagmar que só anda de preto. Nem o Zequinha que faz o Estrela Rubi toda vez que enxerga um crucifixo. Toda a humanidade.

Repetindo comigo: Toda. A. Humanidade.

Deu para sacar agora?

Isso significa que, de uma forma ou de outra, essa ideia base do Ser Humano como responsável por suas escolhas, decisões e seu próprio destino, sem um Deus ou um Diabo para jogar as suas responsabilidades às costas é algo que vai despertando no íntimo de cada um de nós quer tenhamos ou não consciência disso. Mas claro que cada um vai reagir a isso de uma forma diferente. Em alguns isso vai atuar com um baita “cacete, é isso mesmo” enquanto para outros a consequência dessa linda sementinha vai ser um berro de desespero que daria orgulho a qualquer scream queen de filme de terror adolescente. Mas não adianta. Está lá.

Mas isso também significa que tem muita gente por aí que está fazendo coisas como “seguir sua Verdadeira Vontade” sem nunca ter ouvido falar no Crowley, Liber AL vel Legis, Thelema ou nada do tipo. Mas eles sentiram esse novo modo de ser dentro de si e tocaram o barco adiante em suas vidas. Vai dizer que são menos Thelemitas por conta disso?

Outros ouviram falar disso tudo e usam como muletas para sair tocando o terror em cima de tudo quanto é Cristão e Wiccan enquanto se divertem pacas no próximo show da sua banda favorita de trash metal. Mas… Vai dizer que são menos Thelemitas por conta disso?

E, por certo, existem até aqueles que ficam se enfiando em Ordens iniciáticas, fazem um monte de rituais, estudam os textos do Crowley, meditam… Alguns até só se alimentam de couve e tomam sol no traseiro. Vai dizer que são menos Thelemitas por conta disso?

Talvez (e talvez seja só talvez mesmo) o que faz a diferença entre os ditos Thelemitas e os que se dizem não Thelemitas seja a consciência tomada dessa mudança e sua aceitação ou a inconsciência e negação. Alguns talvez conheçam o termo e outros talvez não.

Ou talvez a diferença não passe de uma etiqueta que grudamos em nossos traseiros.

Vai dizer que seriamos menos Thelemitas por conta disso?


Autor: Frater Hrw

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