É interessante como a união ou separação do Espírito da Matéria é motivo de desentendimentos entre místicos, adeptos e Iniciados. Deixei de produzir, por um longo tempo, meus próprios trabalhos, que sempre se basearam na observação e crítica dos movimentos dos indivíduos para estudar mais profundamente certos preceitos encontrados em obras de Iniciados não Thelemitas, a fim de me reavaliar em relação do meu desenvolvimento dentro do conceito Thelêmico. Caminhei muito pouco — triste conclusão — imaginava. Lembro-me de quando me iniciei, imensa alegria, novos amigos — irmãos — novas experiências a serem aprendidas e assimiladas, novas críticas e novas conclusões que não se conservam — “A Estabilidade está no Movimento” — De início isto nos traz desapontamento. Eu me decepcionei com o meu desenvolvimento, desacreditei do meu esforço, desejei retornar, voltar de onde cheguei para onde eu havia partido. Não foi possível, a Dor aumenta com a possibilidade da Deserção do Indivíduo aos Propósitos do Ser Supremo — “A Estabilidade está no Movimento” — quando se está estático o Espírito reclama e a Intenção transforma a Paz almejada pela matéria em um martírio e uma prisão de Estagnação.
Toda Energia Universal pode ser diagramada na árvore da Vida. É preciso se lembrar que tudo realizado na Matéria provém de uma Força Arquetípica que não deve e não pode ser questionada, está além de qualquer Esforço de Nosso Entendimento. É a Vontade do Ser Humano primeiramente conhecer-se e, através disto, conhecer o fito de sua existência nestes Planos Inferiores onde a Matéria parece predominante, Mundo Material (Assiah); e seguindo este fito realizar a sua Ascensão de forma a acalmar o Ambiente que o cerca com o movimento harmonioso de Seu Ser com o Ser Maior de onde provém toda a Inspiração à Sua Aspiração, desta forma estabilizando os planos inferiores pela intervenção dos planos imediatamente acima, onde a matéria é embrionária, no Mundo Formativo (Yetzirah) — considerável no Mundo Criativo (Briah) — e por fim, hipotética no Mundo Arquetípico (Atziluth).
Desta forma para a mente ordinária poderia ser bastante dizer que: — Basta então se harmonizar com o Ambiente para que esta Evolução tome lugar! — Não, não creio que seja assim tão simples. Lembrando que é mais do que teoricamente impossível uma acepção do Mundo Arquetípico e o mesmo semelhantemente dos dois Mundos imediatamente abaixo, arriscarei um exemplo — Existe a Engenharia Perfeita e com os recursos nelas existentes pode ser possível criar todas as Máquinas — Atziluth. Assim um engenheiro, a personificação da Engenharia cria em sua Prancheta o Projeto de uma Máquina, que é uma Concepção do Ideal que deveria ser perfeita, mas que não é devido às características do engenheiro — Briah. Assim o Engenheiro delega a um Construtor que realize o Projeto desta Máquina, este interpreta o Projeto e o executa de acordo com o que lhe foi entregue — Yetzirah. Ao final de todo este processo teremos a Máquina que pode ter defeitos que não são conhecidos, nem pelo Construtor, nem do Engenheiro, mas que são esperados pela Engenharia Perfeita, que sabe de forma completa a deficiência do Engenheiro, do Construtor e do Material. Assim o Ideal proposto pela Engenharia Perfeita não pode ser Real, bem como o Real apesar de vir do Ideal não O é propriamente — Desta forma é indispensável lembrar que há um Ideal e que é lá que reside a Perfeição, o que nos parece Real só o é assim devido a aquele Primeiro Princípio, de forma que somos apenas elementos de uma Grande Máquina e que cada um de nós tem um importante papel a cumprir e não devemos jamais nos desviar desta tarefa, e nós podemos não ser perfeitos completamente. É importante lembrar que os ajustes de todos elementos dependem de uma série de Variáveis, como as Culturais, Religiosas e Morais; isto pode ser comparado à procedência, processo de fabricação e uso de um determinado elemento e influem determinantemente sobre o resultado do conjunto. A primeira Barreira é transcender tudo isto e cumprir seu papel como no projeto, sendo também seu próprio construtor, buscando dentro de si mesmo o Engenheiro que você é, isto é a operação mágica em seu mais prático sentido, o Ser é Tornar-se, aí cabe também uma comparação Alquímica sobre a transmutação do Filósofo. Uma vez tendo alcançado o Engenheiro dentro de si mesmo, conhecendo todo o Processo Criativo até aí, já se está próximo ao Ideal, assim será inevitável que seja possível vislumbrar todas as possibilidades que são, foram, e serão usadas no Ideal, e mais além tudo o que está além, o que não foi, não é, e não será usado dentro do que é Anti Ideal. E esta ultima União será a Anulação Completa do Ego e a Dissolução Temporária ou Final do Ser e a Divindade.
No Tarot, grosso modo e sem riqueza de detalhes, a Engenharia Perfeita seria representada pelo Cavaleiro, o Engenheiro pela Rainha, o Construtor pelo Príncipe e a Máquina pela Princesa; de forma que a Engenharia existe para dar condições de Criação, o Engenheiro possa dar condições de Construção e a Matéria seja o Incentivo de Existência da Engenharia. Assim a Matéria não deve ser encarada como uma Maldição em si, mas como uma ferramenta ou motivo para se chegar à Perfeição Cósmica.
A Perfeição ou a Ideia de Perfeição que pretendemos ter enquanto somos seres dotados de matéria não sutil importa na compreensão desta armadura que nos mantém presos, ou melhor, ancorados a este Mundo-Realidade de Assiah. Somente com a compreensão adequada do que podemos ou não podemos, e da sapiência necessária da Lei que controla todos os níveis de existência neste plano a qual nos manifestamos de forma consciente é que poderemos pretender a compreensão dos diversos níveis aos quais almejamos nos iniciar e adentrar. Os estudos dos fenômenos físicos, tão negligenciados pelas religiões das massas, seriam uma ótima escola ao aprendizado espiritual — “O Método da Ciência, O Objetivo da Religião” — Isto sim seria o melhor dos Catecismos — “Conhece a Ti mesmo” — Para se conhecer é preciso entender como o Meio o influencia; e nada mais simples que começar pelo o que é, para a nossa ainda limitada visão, o mais tangível, e que não seja mais ignorada a Filosofia seja ela qual for, mas apreciada e devidamente compreendida, pois não há uma ideia que seja totalmente estéril. Meus filhos, alimentem suas ideias! Isto é em parte a significação da União Kether-Tiphareth-Malkuth, é preciso dar substância ao Ideal para que este se manifeste em todas as suas possibilidades, a Perfeição só pode existir quando todas as possibilidades foram esgotadas e outras foram criadas, é como uma Dízima Periódica, o Resultado depende do nível da precisão matemática aplicada.
Afinal, alce por fim a Sabedoria além da Sabedoria, “estejam retamente erguidos; suas cabeças acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos”, para que aí haja o equilíbrio, e a matéria possa se manifestar sem ofender a Luz que a Idealizou.
Autor: Frater OSEAS