Cerimônia do Leão-Serpente

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Este é um ritual para ser executado em comemoração à Festa do Leão-Serpente, celebrada no dia 1º de agosto em referência à entrada do Sol no 2º Decanato do Signo Astrológico de Leão. O rito aqui presente é adaptado ao Hemisfério Sul, celebrando o meio do Inverno.

Preparação

O Templo

Ao centro do Templo está um altar coberto de tecido preto. Sobre este estão, uma jarra de água, um cálice de vinho com canela, um pedaço de pão (não cortado) sobre uma pátena, um incensário, um frasco de perfume (incenso) e um sino. Quatro velas se localizam no Altar: uma verde ao Sul, uma preta a Oeste, uma branca a Leste e uma amarela no Centro. As velas preta e branca devem estar em castiçais.

Os Oficiantes

O(A) Oficiante veste-se de branco com ornamentos verdes e se coloca ao Sul do Altar. O Touro e a Virgem não são vistos no Templo, apenas suas vozes são ouvidas.

O Ritual

O(A) Oficiante bate o sino: 333-55555-333.

Touro e Virgem (juntos): Saudações à Mãe Terra e Seu Leão, mesmo Sekhmet, a senhora de Asi!

Todos: Salve, salve Mãe!

O(A) Oficiante ergue o cálice.

Oficiante: Faze o que tu queres será o todo da Lei.

Todos: Amor é a lei, amor sob vontade.

Oficiante: Saudamos a Besta do Orgulho, leonina, divinizada!

Todos: Faze o que tu queres.

Oficiante: Saudamos a Serpente Enrodilhada, ao despertar de nosso sono e a cada grilhão partido!

Todos: Faze o que tu queres.

Oficiante: No amor e na liberdade, sem graça e sem culpa, que o fogo exaltado de nossos desejos sublimes se erga nas piras do Aeon!

Todos: Faze o que tu queres.

O(A) Oficiante baixa o cálice.

Oficiante: A razão da dor é o desejo do Um pelo Muitos.

Touro e Virgem (juntos): Ou dos Muitos pelo Um.

Oficiante, Touro e Virgem (juntos): Isto também é a causa da alegria!

Touro: Mas o desejo do Um pelo Outro é toda a dor. Ele nasce da fome, mas a saciedade é sua morte.

Virgem: O desejo da mariposa pela estrela ao menos a preserva da saciedade.

Oficiante: Esfaima-te pelo infinito. Sê insaciável até pelo finito. Assim, ao Final, devorarás o finito e te tornarás o infinito. Sê mais ganancioso do que o tubarão, mais cheio de saudades do que o vento entre os pinheiros.

Touro: O peregrino cansado continua sua marcha. O peregrino saciado para.

Virgem: A estrada é sinuosa: toda lei e toda natureza devem ser superadas.

Oficiante: Faze isso em virtude ÀQUELE em ti mesme, diante do qual a lei e a natureza são meras sombras.

Touro: “Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, liberta do desejo de resultado, é em todo modo perfeita.”

Enquanto Touro fala, o(a) Oficiante toma o sal e o mistura à água. Em seguida toma a água e a asperge pelo Templo, em sentido horário.

Virgem: “Eu estou erguido em teu coração; e os beijos das estrelas chovem forte sobre teu corpo.”

Enquanto Virgem fala, o(a) Oficiante coloca o perfume no incensário e incensa o Templo em sentido horário.

Nas próximas 11 invocações, ao final de cada uma o(a) Oficiante toca o sino uma vez.

Oficiante: Ó Tu, Divindade poderosa, faze de mim qual um leão de rubi que ruge no cume de uma montanha branca. Eu Te suplico, Ó Tu, Grande Divindade, possa eu ecoar Teu Domínio através das colinas e alimentar-me ao seio de Tua generosidade. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó Tu, oplascente Rainha-Serpente, cuja boca é qual o pôr do Sol, que é sangrenta como a matança do dia. Segura-me nas chamas carmesins de Teus braços para que em Teus beijos possa eu expira como uma bolha na espuma de Teus deslumbrantes lábios. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó Tu, Divindade do Nada e do Tudo! Tu não és nem os rastros do Carro, nem a coluna da Ilusão galopante. Ó Tu que não és nem o pivô de todo o Universo, nem o corpo da celeste Mulher-Serpente. Eu te nego pelos poderes de Meu Entendimento: guia-me na unidade de Teu poder e atrai-me ao limiar de Teu Nada a que tudo permeia pois Tu és tudo e nada nestas plenitudes de Teu Não-Ser. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ah, mas eu me regozijo em Ti, ó Tu, meu Deus. Tu, joia nos braços da noite. Tu, elaboração da Unidade. Tu, rajar de sóis universais. Sim, eu me regozijo em Ti. Tu, magnífico. Tu, selvagem. Tu, o Grande Leão rugindo sobre um mar de sangue! Eu me regozijo, sim, eu grito de alegria! Até que o trovão selvagem de meu louvor rompa como um sátiro a copular, os nove e noventa portões de Teu Poder, na Glória e Esplendor de Teu Nome. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó, minha Divindade, exalta-me com sangue e tem misericórdia de mim, enquanto humilho-me perante Ti. Pois toda a minha coragem é apenas como a presa de uma víbora que golpeia o calcanhar rosado da Alvorada. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ai de mim, minha Divindade, ai de mim, pois toda a alegria de meus dias jaz desonrada como a Virgem da Noite, de véus cintilantes, rasgada e pisoteada pelos solares garanhões da Aurora. E mesmo assim, no frenesi de Tuas cópulas eu fremo qual orvalho perolado na luz estática. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó, o que és Tu, Divindade, minha Divindade, presas de fogo escarlate que roem os membros azuis da noite? Ó Tu, devorador sopro da chama! Ó oceano ilimitado de ar frenético no qual tudo é um, uma pluma lançada em uma fornalha! Ó, como posso ousar me aproximar perante Ti, pois sou apenas uma folha seca flutuando na fúria de uma tempestade? Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó Tu, gigante coroado dentre altivos gigantes. Tu, guerreiro da espada carmesim! Sim, enquanto luto contra Ti, Tu me dominas como um leão que mata um bebê em berço de lírios. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó, minha Divindade, Tu, Poderosa, Tu, Criadora de todas as coisas. Eu renuncio por Ti aos sussurros do deserto, ao gemido do samiel e a todo o silêncio do mar de pó, para que eu possa me perder nos átomos de Tua Glória e ser consumido(a) na alegria indizível de Teu êxtase eterno. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó, Tu, oceano incandescente de estrelas derretidas, surgindo acima do arco do Firmamento. A Ti eu juro, pelas engardelhadas lanças de luz, tirar o leão da escuridão de Teu covil e fustigar a feiticeira do meio-dia com serpentes de fogo. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

Oficiante: Ó, Tu, Soberano de Luz, Fogo e Beleza, cujas mechas flamejantes fluem para baixo pelo Aethyr qual feixes de relâmpagos profundamente enraizados no Abismo. Eu Te conheço! Ó, Tu, mangual brilhante, chicote apaixonado cuja mão envolvente esparrama a Humanidade diante de Tua fúria qual faz o vento tempestuoso do peito do Oceano. Ó Divindade, minha Divindade.

Todos: Que assim seja!

O(A) Oficiante circumbula o Templo em sentido horário, com o cálice erguido, enquanto recita.

Oficiante: A Eternidade é a tempestade que me cobre… Agora, portanto sabes quando estou dentro de Ti, quando o meu capuz está estendido sobre o teu crânio, quando o meu poder é maior do que o Indus encarcerado, e irresistível como a Geleira Gigante. Pois assim como Tu estás diante de uma mulher lasciva em Tua nudez no mercado, sugado pelas astúcias e sorrisos, assim Tu estás por inteiro, e não mais em parte, diante do símbolo do amado… E em tudo Tu criarás a Bem-Aventurança Infinita e o elo seguinte da Corrente Infinita. Essa corrente vai da Eternidade à Eternidade, sempre em triângulos, símbolo do Senhor Mais Secreto, e sempre em círculos, o símbolo do Amado. Está aí toda a ilusão da base do progresso, pois cada círculo e cada triângulo são iguais!

Touro e Virgem (juntos): Mas avanço é avanço, e avanço é êxtase, constante, deslumbrante, chuvas luminosas, ondas de orvalho, chamas dos cabelos da Grande Deusa, guirlandas de rosas em Seu pescoço. AUMGN.

O(A) Oficiante vai para o Norte do Altar e faz sobre o pão um pentagrama de invocação do fogo, usando o cálice, enquanto fala.

Oficiante: TON ARTON EMON TON EPIOUSION DIDOU EMIN TO KATH EMERAN. (“Dai a nós o pão de cada dia”)

O(A) Oficiante pousa o cálice e eleva o pão.

Oficiante: Levanta-te, portanto, como sou eu elevado. EGO EIMI O ARTOS TES ZOES. (“Eu sou o pão da vida”) Mantém-te, pois sou eu o mestre que realizará.

O(A) Oficiante parte o pão.

Oficiante: Ao final, esteja distante o fim qual as estrelas que jazem no umbigo de Nuit, mata-te como eu finalmente sou morto, na morte que é vida, na paz que é a mãe da guerra, na escuridão que segura a luz em suas mãos, como uma prostituta que arranca a joia de suas narinas.

O(A) Oficiante coloca o pão partido na pátena os eleva.

Oficiante: OTI EIS ARTOS EN SOMA OI POLLOI ESMEM, OI GAR PANTES EK TOU ENOS ARTOU METEKHOMEN. (“Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão”)

O(A) Oficiante ergue os braços, com as mãos em garra, palmas para a frente.

Oficiante: Eu me aproveito desses Sacramentos.

O(A) Oficiante arranca um pedaço do pão e o come. Depois bebe um gole do cálice.

Oficiante: Assim eu sustento minha fome.

O(A) Oficiante mergulha um pedaço do mão no vinho e o espreme sobre a vela negra, apagando-a.

Touro: Assim eu sustento minha fome.

O(A) Oficiante faz o mesmo com a vela branca.

Virgem: Assim eu sustento minha fome.

Todos mergulham um pedaço de pão no vinho e o comem, dizendo “assim eu sustento minha fome”.

O(A) Oficiante saúda o Oriente, o Ocidente e o Sul com o Cálice.

Oficiante: Portanto, o início é deleite e o fim é deleite, e o deleite está no meio, assim como o Indus é a água na caverna da Geleira e a água está entre as colinas maiores e menores, e através das muralhas das colinas e das muralhas das planícies, e a água saltando poderosa em sua foz quando salta no mar poderoso, sim, no mar poderoso.

O(A) Oficiante bate o sino: 333-55555-555.

Notas

Samiel: vento quente e seco que vem do Sahara para o Egito, da direção Sul.

Indus: constelação do Hemisfério Sul, com ascensão 20h 28m 40.6308s-23h 27m 59.4799s e declinação −44.9588585°-−74.4544678° no quadrante SQ4.

Pentagrama de Invocação do Fogo

Autoria: Frater Nihil
Baseado no ritual “Feast of the Lion-Serpent“, de Frater T Polyphilus

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