Oriunda da tradição judaica, a cerimônia de Shabat destina-se a celebrar o último dia da Criação, que, dentro do pensamento cabalístico, é o tempo atual, quando o Ser Humano assume a responsabilidade pela continuidade desta Criação no lugar da Divindade, que se retira “para descansar”. É também um ritual que busca comemorar a mítica libertação do povo judaico do cativeiro egípcio, assumindo, assim, um caráter de celebração da liberdade. Ao tomar o sábado para descanso, o judeu indica ser um homem livre, uma fez que escravos não possuem dias de folga. Adicionalmente, é também um momento de congregação da família, quando todos se reúnem ao redor das velas para celebrarem em comunhão.
O presente ritual mantém a estrutura ritualística do Shabat tradicional mas verte-o para o pensamento Thelêmico. Da mesma forma, reunimo-nos com nossos entes queridos para celebrar a responsabilidade de nossas próprias vidas enquanto divindades criadoras de nossos próprios caminhos individuais e da liberdade que colocamos uns para os outros ao nos cumprimentarmos com a Lei de Thelema.
Preparação
- O Tempo: o ritual deve ser realizado ao pôr do Sol de sexta-feira, início do Dies Saturnii,
- O Templo: qualquer aposento que tenha uma janela pode ser usada como Templo, mas as luzes devem estar apagadas, a única iluminação deve vir da janela; não devem ser usadas luzes artificiais; em algum ponto, próximo ao altar, está uma bacia de água e uma toalha.
- O Altar: situa-se à Oeste; deve estar coberto por um pano branco; na parte de trás está a Estela da Revelação; à sua frente, o Livro da Lei fechado; ao lado destes, duas velas brancas, apagadas; na parte da frente, uma Taça de vinho tinto e uma pátena com uma côdea de pão (preferencialmente, ázimo) e um pequeno recipiente com sal.
- O/A Oficiante: não necessita o uso de robe cerimonial mas deve portar algum adorno de representação solar (roupas em cores solares, joias com símbolos solares etc.); posta-se à frente do Altar, virado para ele.
- Os/As Presentes: postam-se atrás do Oficiante. Caso não hajam outras pessoas presentes, o/a Oficiante pode executar o rito sozinho(a), realizando todas as partes por si.
O Rito
- O/A Oficiante acende as velas e toma o Livro da Lei, segurando-o contra o peito. Vira-se para os Presentes. Faz o Sinal de Saudação: corpo e cabeça eretos, mão esquerda sobre o peito, mão direita aberta, erguida em esquadro com o polegar afastado.
- OFICIANTE: Faze o que tu queres será o todo da Lei.
- PRESENTES (retribuindo o Sinal): Amor é a lei, amor sob vontade.
- TODOS: AUMGN. AUMGN. AUMGN.
- OFICIANTE: Reunimo-nos aqui em Celebração de nossas Vontades e Demonstração de nossa Disciplina e Liberdade, comemorando nossas Vidas nos Auspícios de Saturno.
- TODOS: Ave, Thelema!
- O/A Oficiante volta-se para o Altar e recoloca o Livro da Lei.
- OFICIANTE: Acima, o azul gemado é / O esplendor nu de Nuit; / Ela se curva em êxtase para beijar / Os ardores secretos de Hadit. / O globo alado, o azul estrelado, / São meus, Ó Ankh-af-na-khonsu!
- TODOS: Que assim seja!
- O/A Oficiante toma a bacia de água e a toalha e as leva até os Presentes. Cada um lava e seca suas mãos. O/A Oficiante por último. Devem-se retirar anéis, pulseiras etc. para que a água cubra totalmente as mãos.
- OFICIANTE (apontando para o pão): Eis a Vida, o Fruto, o Sustento. Ave, Thelema!
- OFICIANTE (apontando para o vinho): Eis a Alegria, o Consolo, a Inspiração e o Êxtase. Ave, Thelema!
- O/A Oficiante parte o Pão, em quantas partes hajam pessoas Presentes, e se afasta do Altar.
- Cada um dos Presentes aproxima-se do altar, toma um pedaço de Pão e uma pitada de sal, colocando-a sobre o Pão. Segura a Taça na mão esquerda e o Pão na direita. Volta-se para todos.
- PARTICIPANTE (virando-se para todos): Aqui proclamo minha Vida, una, individual e eterna, que foi, é e será!
- TODOS: Ave, Thelema!
- A Pessoa consome o Pão e um gole do Vinho, coloca a Taça de volta no Altar e volta a seu lugar.
- Todos fazem isso, o/a Oficiante por último, esvaziando a Taça.
- OFICIANTE (Voltado para o Altar): Oremos!
- TODOS: Eu sou o Senhor de Tebas, e Eu / O inspirado orador de Mentu; / Para mim se desvela o velado céu, / O morto por si mesmo Ankh-af-na-khonsu / Cujas palavras são verdade. Eu invoco, Eu saúdo / Tua presença, Ó Ra-Hoor-Khuit! / Unidade máxima manifestada! / Eu adoro o poder de Teu sopro, / Supremo e terrível Deus, / Que fazes os deuses e morte / Tremerem diante de Ti: — / Eu, Eu te adoro! / Aparece sobre o trono de Ra! / Abre os caminhos do Khu! / Ilumina os caminhos do Ka! / Os caminhos do Khabs percorre / Para agitar-me ou apaziguar-me! / Aum! que isto me mate! / A luz é minha; seus raios consomem / a Mim: eu fiz uma porta secreta / Para dentro da Casa de Ra e Tum, / De Kephra e de Ahathoor. / Eu sou teu Tebano, Ó Mentu, / O profeta Ankh-af-na-khonsu! / Por Bes-na-Maut no meu peito Eu bato; / Pelo sábio Ta-Nech o meu feitiço Eu teço. / Mostra teu esplendor estrelado, Ó Nuit! / Convida-me à tua Casa para morar, / Ó alada serpente de luz, Hadit! / Habita comigo, Ra-Hoor-Khuit!
- OFICIANTE: Possa nossa Vontade ser cumprida, pela força de nossa Disciplina. Seja o Sacrifício sustentado pela Alegria. Possa a Realização ser feita plena.
- TODOS: Ave, Thelema!
- Todos se retiram, deixando as velas queimarem até o fim.
Nota: sugere-se que ao final do Rito, todos participem de uma refeição em comum.
O Sacrifício
Cada Participante (incluindo o/a Oficiante) deve estabelecer um exercício de disciplina que deverá ser mantido desde o final do ritual até o pôr do Sol de sábado. Exercícios sugeridos podem ser privar-se de algum prazer como bebida ou algum tipo de comida, não realizar alguma ação, controlar um determinado estado mental, não utilizar uma determinada palavra etc.