Há algumas controvérsias quanto aos primeiros indícios de Thelema em terras brasileiras. Alguns estudiosos apontam que Thelema teria chegado ao Brasil pelas mãos de Ida Hoffmann. Ida foi uma das fundadoras da histórica comunidade avant garde de Monte Verità, na Suíça, juntamente com seu marido, Henri Oedekoven. Esta comunidade recebeu influências thelêmicas das mãos de Theodore Reuss, então líder da O.T.O. Para maiores detalhes, leia a História da Ordo Templi Orientis. Em 1920 ela mudou-se para o Brasil, estabelecendo uma colônia aos moldes do Monte Verità na cidade de Palmital, chamada Monte Sol. Porém, não há evidências mais do que circunstanciais de que se praticasse a filosofia de Thelema (menos ainda as práticas) em Monte Sol. No máximo, pode–se dizer que Thelema teve influência no trabalho de Ida Hoffmann e, portanto, no modo de pensar praticado em sua colônia brasileira.
Documentalmente, Thelema chega ao Brasil através da F.R.A., em 1933. Além de vários ritos calcados no pensamento thelêmico, vários dos membros da Ordem identificavam–se como thelemitas, e na revista da organização, “Gnose”, foram publicados vários textos de Aleister Crowley (sempre identificado como Mestre Therion). Contudo, a F.R.A. nunca se preocupou em divulgar Thelema e jamais deu a entender ser uma Ordem thelêmica.
Thelema, assim, fica incipiente até que Marcelo Ramos Motta, um membro da A∴A∴, discípulo de Karl Germer, começa a traduzir textos de Crowley e divulgá-los abertamente.
É incontroversa a importância de Marcelo Motta para Thelema no Brasil. Textos como “Chamando os Filhos do Sol” ou “Carta a Um Maçom” apresentaram o pensamento thelêmico de forma clara e ligada à realidade nacional aos brasileiros. Juntamente com Raul Seixas e Paulo Coelho, escreve também músicas com temática thelêmica.
Com base nessas associações, Raul Seixas e Paulo Coelho criam, em 1974, sua Sociedade Alternativa, teve sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegando mesmo a adquirir um terreno próprio em Minas Gerais para a construção da Cidade das Estrelas, que deveria ter sido uma comunidade totalmente baseada na Lei de Thelema. As músicas de Raul, Paulo Coelho e Motta, além da aberta divulgação de ideais de liberdade contrapunham-se fortemente à ditadura civil-militar brasileira de então. Muitos de seus trabalhos foram censurados e mesmo os exemplares de seu manifesto “A Fundação de Krig-Ha” foram queimados como subversivos. Como resultado disso, o Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) prendeu e torturou Raul, tendo Motta e Paulo Coelho escapado da prisão.
Desta forma, podemos dizer que a Astrum Argentum, seguida da Sociedade Alternativa, foram as primeiras organizações thelêmicas a operarem de forma plena e regular no Brasil, a partir do final dos anos 60 e início dos anos 70.
Após a tentativa frustrada de tomar o controle da O.T.O. em 1985, Motta cria sua Society O.T.O. que, apesar do nome, jamais teve qualquer tipo de ligação com a Ordo Templi Orientis. Após a morte de Motta, porém, o grupo foi perdendo atuação.
O trabalho de Motta, contudo, não desapareceu de todo. Muitos de seus discípulos na A∴A∴ deram continuidade a ele, de forma grupal ou individual. Atualmente, devido a continuação de sua linhagem tanto dentro quanto fora do Brasil, pode-se dizer que Motta é o brasileiro de maior renome no meio thelêmico mundial.
Outro discípulo importante de Motta na história de Thelema no Brasil é Euclydes Lacerda de Almeida, responsável pela fundação de vários grupos e sociedades thelêmicas no país, dentre as quais podemos destacar a Sociedade Novo Aeon, de onde sairiam os membros que trouxeram a Ordo Templi Orientis para o Brasil (para mais detalhes, leia A História da O.T.O. no Brasil.
Outros grupos a atuarem sob a égide thelêmica no Brasil foram: o Sagrado Círculo de Thelema — formado principalmente por membros da F.R.A. que desejavam a divulgação de Thelema no Brasil e que desenvolveram sua própria versão do Livro da Lei —, a Loja Nova Ísis, cujo trabalho baseava-se no de Kenneth Grant, o Collegium ad Lux et Nox, grupo não iniciático voltado ao ensino de magia, e a Ordem Thelemita Brasileira, que alia Thelema à doutrina Rastafári.