Deus

Parece que foi ontem, quando eu ainda não sabia no que acreditar.
Parece que faz muito tempo desde que morri a primeira vez.
Parece que hoje eu vou morrer de novo.
A morte, eu descobri, está sempre ao meu lado, esperando um pequeno deslize. Uma morte que nunca é completa, sendo.
E sempre renasço.
A cada pequena morte eu vejo o que eu Sou, e descubro o que Fui. E nesses momentos eu sou uma criança aprendendo a andar, falar, sentir. Mas isso é o depois, a consequência.
Mas a morte sim é o que dói. É ela que traz a sensação de abismo, daquilo que eu era, para aquilo que eu vou ser. E esse espaço de tempo entre o ser e o não ser é que me arranca da quietude e me lança na tempestade.
Nesses momentos a única solução é a calma, eu me calo, e, aí sim, eu sou Deus.
Um Deus que percebe a própria Criação, que nada mais é do que Ele mesmo.
Um Deus descobre a Criação para saber quem é Ele, e assim age conforme sua essência, até que outra morte se faça necessária, para que Ele se lembre outra vez quem é Ele.
E no fim, Ele sempre soube.
Pode sofrer e pode sorrir, e tudo depende Dele. Pode querer chorar todos os dias que as lágrimas não secam.
Não existe nada que Ele não conheça, mas mesmo assim, brinca de desconhecer, apenas pela alegria da descoberta.
Encontra outros Deuses, alguns tem importância real em sua vida, se Ele assim quiser, outros passam apenas, outros ainda caminham junto e descobrem-se mutuamente. A alegria de um encontro com um Deus é cheia de amor, e a separação é a plenitude do amor, pois aceitam-se como são e vivem cada instante, pois sabem que cada um, mais cedo ou mais tarde, vai seguir seu Caminho.
Existe sofrimento e existe alegria, que cada qual faça sua escolha.
Iludido está aquele que acredita poder trazer alivio, alegria ou sofrimento para o outro.
Não percebe que Ele é a Verdade, Ele é o Caminho, Ele é Vida.
Então, toma para si o que é por direito seu.
Desperta do sonho e abraça a divindade.

Eu estou só: não há Deus onde Eu estou.

Liber AL, II:23

Autora: Soror Fênix