O Sagrado Anjo Guardião é o Eu Superior, em Tiphareth — Ele é a encarnação do Espírito Coletivo que emana das esferas superiores. Da mesma forma que não podemos ver a Luz do Pai senão através de seu reflexo na luz do Filho, não podemos compreender o Espírito Coletivo senão através dos produtores culturais — sacerdotes, artistas, filósofos, atores, etc… Não podemos compreender o Espírito Coletivo senão através do reflexo deste na luz de Tiphareth, que é onde acontece a inspiração artística do gênio. Não podemos compreender o Espírito Coletivo de uma época senão a partir da inspiração de Tiphareth, onde ouvimos a voz muda do Eu Superior, e onde contemplamos a luz ofuscante da manifestação do Pai. Mas aquele que assim ouve esta silenciosa voz que vem de dentro, ofuscado e cego, está como que morto para si mesmo e para o mundo, completamente absorvido no êxtase da inspiração ; a visão do eu inferior está ofuscada, os ouvidos do eu inferior estão silenciados — é ali que o Eu Superior fala, usando a personalidade e o corpo como se fosse uma marionete. A personalidade, o “eu inferior”, sua compreensão, sua visão e seus sentidos, jamais ultrapassam o véu que separa Netzach de Tiphareth. O fato de que Crowley tenha se identificado com “Aiwass”, “seu” Sagrado Anjo Guardião, não significa que Crowley seja o “seu” Sagrado Anjo Guardião. O nome “Edward Alexander Crowley”, na minha opinião pessoal, diz respeito a uma personalidade irresponsável, deselegante e desprezível. O “Aiwass”, entretanto, é um espírito sublime, resplandecente e iluminado, digno de respeito e admiração. Se Crowley se identificou com Aiwass, ele o fez da mesma forma que alguém se identifica com seu poeta preferido, mesmo embora o Livro da Lei contenha muito mais que beleza e poesia.
Ele se identificou com Aiwass porque via neste o reflexo do espírito da Humanidade — ele se identificou com Aiwass por amor e admiração à divindade inerente ao sublime Conjunto Coletivo da Humanidade, ao ver Deus no Homem, ao ver Deus como o Homem, e ao ver Deus como toda a Humanidade, como aquele céu sublime e estrelado em que “cada homem e cada mulher é uma estrela”, e onde estamos, estivemos e estaremos todos nós — na profunda, deliciosa e terrível inconsciência de toda a Coletividade. Quando Crowley se identificou com Aiwass, se identificou em admiração à Luz daquilo que Aiwass meramente reflete. Assim como a luz visível de Tiphareth é apenas reflexo da Luz invisível de Kether, Aiwass é mero reflexo do Espírito da Humanidade, Aiwass não é nada senão apenas mero reflexo do Espírito da Humanidade.
No Livro da Lei nós vemos sem ver, ofuscados, o Esplendor de Nuit, o esplendor do Céu Infinito Estrelado, onde cada homem e cada mulher é uma estrela — nós vemos o esplendor de toda a Humanidade, e não o esplendor de Aiwass. Mas vemos, também, as palavras usadas por Aiwass para refletir o esplendor de Nuit. Nós vemos as palavras de Aiwass, do espírito sublime encarnado, do Sol ofuscante, e não as palavras daquele alpinista inglês deselegante e irresponsável.